CONSTRUÇÕES FÍSICAS DE UM AÇUDE

09/08/2011 13:43

 

CONSTRUÇÕES FÍSICAS DE UM AÇUDE

 

1. Introdução:

Quem pretende iniciar uma exploração racional de peixes, fazendo desta atividade um complemento da renda da propriedade deve em primeiro lugar ter em mente que algumas noções básicas que envolvem os aspectos de construções devem ser dominados, sob pena de comprometer toda a exploração.

A nossa pretensão , portanto não é a de formar nenhum "expert" no assunto, já que a construção de barragens deve ficar à cargo de profissionais competentes, mas sim de dar uma boa noção para que o produtor possa acompanhar os operadores de máquina ou até mesmo o trabalho manual na construção de pequenas barragens e assim verificar aspectos que embora simples, são vitais à segurança das mesmas.

Para a melhor compreensão faremos a conceituação de alguns termos técnicos, de forma que todos possam se familiarizar com as terminologias a serem usadas:

- Barragem: Maciço de terra que tem por finalidade barrar as águas de um riacho.

- Represa: É o lago que é formado (represado).

- Açude: Reservatório d'agua de origem pluvial ou mesmo oriundo de nascentes ,de formação natural ou artificial, com volume e área de lâmine d'agua variável.

-Tanque ou viveiro: É um recinto com água que pode ser facilmente esvasiado, secado e enchido novamente consoante as necessidades da piscicultura.

- Canal: De uma maneira grosseira, podemos dizer que é uma valeta aberta no terreno para conduzir a água, podendo e devendo tal valeta ser revestida.

- Vazão: É a quantidade de água que atravessa uma determinada seção em um tempo dado. É medida geralmente em l/s (litros por segundo) ou m3/h (metros cúbicos pos hora).

- Bacia de contribuição (ou de recepção): É o conjunto de áreas com declive tal que toda água de chuva que cai sobre ela é drenada por uma dada seção do curso de água.

- Talude: Inclinação, declive que se dá à superfície de uma obra, rampa.

- Montante: Diz-se da parte que fica antes da barragem propriamente dita ou seja da parte que vai se elevar.

- Jusante: Diz-se da parte que fica após a barragem propriamente dita ou seja da parte de baixo onde vaza a água.

- Monge: Estrutura de esvaziamento da represa construída dentro ou fora da mesma usando concreto e tábuas ou simplesmente madeiras.

- Assoreamento: Deposição de terras que são levadas devido a erosão, no fundo dos rios, represas, etc.

- Crista: É o ponto mais alto da barragem e que via de regra serve ao transito de pessoas, animais e até carros.

2.Escolha do Tipo de Viveiro

O tipo de terreno irá definir qual o tipo de viveiro a ser construído, sendo que podemos classificá-los em duas categorias principais:

Viveiros em derivação

Viveiros em barragens

Vantagens:

Derivação: Fácil controle da água.

Adubação e alimentação artificial facilitada pela possibilidade regular de alimentação.

Facilidade de fazer a despesca por se tratar de solo firme sem tocos, etc.

Barragem: Construção mais barata.

Produtividade natural já que não revolve o solo continuando a fertilidade natural.

Desvantagens:

Derivação: Construção mais cara.

Produtividade natural fraca já que expõe o subsolo retirando praticamente toda a camada fértil do terreno.

Barragem: Necessidade de um escoadouro (ladrão) bem estudado.

Perigo de rebentar-se em caso de cheia.

Adubação e alimentação difícil em virtude das variações da vazão.

Viveiros de barragens ou simplesmente pequenas barragens de terra

a) Escolha do local: Deve buscar uma conjugação de itens que o local satisfaça do melhor modo possível à barragem, à represa e ao ladrão gramado. As principais características são:

- Possuir solo estável: A barragem deve ser assentada em solo não sujeito a deslizamentos e a grandes acomodações provocadas pelo peso do aterro.

- Não apresentar afloramentos rochosos: A barragem de terra não pode ser assentada sobre lajeiras de pedra, à vista ou a uma pequena profundidade. A infiltração de água da represa acarreta escoamento entre o aterro e o lajeiro de pedras, o que compromete seriamente a estabilidade da barragem. A tendência normal é ocorrer deslizamento do terreno em razão de sua frágil soldadura às pedras lisas dos lajeados.

- Ser um estreitamento ou uma garganta do curso d'água: Isto implica no custo da obra, pois quanto maior a garganta, maior o custo do aterro.

- Possuir pequena declividade a montante: Isto implica numa maior capacidade de armazenamento de água devido ao fato de a lâmina estender-sea uma distância maior.

- Ter a montante mais espraiada possível: Esta característica implica, também, uma maior capacidade de armazenamento de água. No entanto, uma pequena declividade, associada a um alargamento da montante, conduz a existência de represas muito rasas, o que, facilita o desenvolvimento de plantas aquáticas, que podem invadir a represa, caso não haja um controle rigoroso.

- Não possuir nascentes: A barragem não deve ser assentada sobre nascentes, pois, após o enchimento da represa, as nascentes tendem a aumentar suas vazões, chegando ao ponto de afetar a estabilidade do aterro.

- Possibilitar o uso da água por gravidade: É de todo conveniente o uso por gravidade, pois, o transporte mecânico iria onerar muito.

b) Limpeza do local: Após marcar o local onde deverá ficar assentada futuramente a crista da barragem, fazer uma limpeza de no mínimo 8 metros de cada lado da marca. A limpeza consiste em retirar árvores, arbustos, tocos, raízes, capim e todo material existente. Este material deverá ser depositado a jusante da barragem, devendo preferencialmente ser queimado.

É também interessante que a limpeza se estenda o mais longe possível à montante da barragem, pois isto facilitaria a despesca através de arrastão utilizando redes.

c) Abertura de cava de vedação : Após a limpeza, abre-se uma cava de 80 cm a 1 m de largura com uma profundidade variável de acordo com o material do terreno, devendo aprofundar a cava até o ponto em que o solo apresentar boa consistência, bem como encaixá-la nos encontros com os barrancos laterais, visando à eliminação dos trajetos de formigas, buracos de tatu e outros canais e à maior estabilidade da barragem.

A cava deverá ser preenchida com uma terra mais argilosa e ser devidamente compactada.

d) Definição do perfil da barragem : As dimensões da barragem estarão em função de uma série de fatores, tais como: tamanho da bacia de contribuição, tipo de vegetação, declividade média da bacia, intensidade de chuvas, etc., existindo fórmulas apropriadas para o seu cálculo. no nosso caso específico daremos exemplo de uma represa a ser construída cujo comprimento no maior sentido até a futura barragem seja inferior a 1Km..

* Perfil da barragem: em Anexo.

d.1) Elementos do perfil:

Altura da barragem (H) - geralmente atinge a mesma altura das margens da garganta onde o aterro está assentado. Esta prática facilita o trânsito sobre a barragem. A altura também pode ser limitada à obras existentes a montante, da barragem, as quais não devem ser demolidas ou inundadas.

Largura da crista (c) - Nunca deve ser inferior a 3m e quanto mais larga, maior será o volume do aterro e consequentemente a estabilidade da barragem.

Largura da crista (c) em função da altura da barragem (H) em metros.

Altura (H) 4,0 6.0 8,0 10,0 12,0

Largura (c) 3,0 3,5 4,0 5,0 6,0

* Fonte: Daker, citada por Loureiro

Inclinação dos taludes (b1 : H) e (b2 : H): o talude de montante deve ser menos inclinado (mais deitado) que o de jusante, para permitir a maior estabilidade do aterro. As recomendações estão sempre próximas da relação de 3 : 1 para o talude de montante e 2 : 1 para o de jusante.

Exemplo: H = 5.0 m C = 3.0 m

b1 = 3.0 x 5.0 = 15.0 m b2 = 2.0x 5.0 = 10.0 m b = 28.0 m

e) Marcação no terreno: Para facilitar os serviços e orientar as operações, deve-se marcar no terreno estas dimensões, usando para isto bambus e cordão de nylon ou similar.

Anexo

f) Aterro: O aterro é feito, colocando-se camadas finas de 15 a 20 cm de terra homogênea, sendo rigorosamente indispensáveis o umidecimento e a compactação. Esta poderá ser feita com soquetes, esteira de tratores, pés de animais, etc.

Independente do processo a terra tem de ficar bem compacta e a fim de compensar o assentamento posterior, o aterro deve ser aumentado de 5 a 10% de sua altura.

g) Volume do aterro: É de grande importância saber o volume do aterro, pois o custo da obra será em função do mesmo e o seu cálculo é feito da seguinte forma: Anexo.

h) Execução do sangradouro (ladrão): A barragem tem necessidade de um sangradouro para poder extravasar o excesso de água que é escoado principalmente durante as chuvas e assim não ultrapassando o volume que a barragem tem capacidade de armazenar. É preciso fazê-lo com cuidado, pois quase 90% das rupturas de barragens decorrem de deficiência do sangradouro. Para determinar as suas dimensões, existem fórmulas apropriadas, porém no nosso caso específico cujas bacias são inferiores a 1km e a altura da barragem é de 5m, vamos adotar uma largura mínima de 2,5m e a altura entre o seu canal e a crista da barragem superior a 1m.

A informação sobre onde as águas atingiram quando houve a maior enchente na região orientam para que tais medidas possam ser modificadas.

A escavação do ladrão deve ser feita em terra firme conforme mostra a figura em anexo e o ideal é que após a sua construção ele seja mantido limpo e se possível gramado para evitar erosão.

i) Sistema de esvaziamento: Qualquer viveiro de piscicultura intensiva deve poder esvaziar-se a todo momento e completamente sem que nele fique qualquer poça, sem esta condição não é possível encarar uma piscicultura intensiva. o melhor sistema de esvaziamento é o monge, ele é composto de uma estrutura vertical que deve ser construído sobre uma sapata de concreto no ponto mais baixo da represa, devendo ficar afastado a 1 m do talude de montante. No corpo do monge deve haver duas ranhuras onde serão encaixadas as tabuas que se deslizam umas sobre as outras para fechar o monge. Para que fique bem fechada, enche-se de argila o espaço entre as duas filas de pranchas e por fim coloca-se uma grade no cimo de uma das filas para impedir a fuga de peixes.

O monge deve ser construído na mesma altura em que ficará o nível da água na represa servindo inclusive para ajudar na circulação da água como para baixar o nível e fazer controle de vazão.

Antes da construção do monge coloca-se cano de evacuação que deverá sair após a talude de jusante abaixo desta saída constrói-se uma caixa de coleta de peixes. O cano deve ser colocado a uma declividade de 1 a 2% .

Um sistema também muito utilizado em pequenas barragens é o desarenador que deve ser instalado tal qual o monge e consiste só em um cano de PVC de 4 polegadas que é instalado no sentido vertical acoplado por um joelho a um cano de evacuação conforme descrito para o monge.

j) Proteção do talude de justante: Deve plantar grama para que seja protegido contra erosão.

l) Assoreamento: Quando possível, a represa deve ser protegida, lateralmente, com curvas de nível,que desviam para a jusante o material arrastado que, fatalmente, iria depositar-se no fundo da represa.

m) A barragem deve ser visitada periodicamente para refazer a cobertura vegetal, encher as rachaduras, desobstruir o ladrão ou para qualquer outra operação que venha contribuir para a segurança da obra.



PERFIL DA BARRAGEM



SANGRADOURO (LADRÃO)

MARCAÇÃO DE BARRAGEM NO TERRENO



CÁLCULO DO VOLUME DE ATERRO

Va = b+c . A Va = 28+3 . 40

2 2

Va = volume do aterro, m3 Va = 620 m3

A = área transversal da garganta, m2

supor A = 40 m2